1) Como
surgiu a ideia do livro?
Havia
organizado uma coletânea de micronarrativas, A Brisa É Você, composta de dez autores e 200 contos. Os autores
ficaram satisfeitos com os resultados obtidos, e me deu muito prazer em realizá-la. Organizei uma segunda coletânea, dessa vez de contos, Então, é isso?, com dez autores e 50
contos. Notei que havia chegado a um formato interessante. Como alguns poetas
me cobravam uma coletânea de haicais e estamos no ano do centenário de nascimento
da poeta Helena Kolody, pioneira do haicai brasileiro, pensei que era hora de
organizar um livro em homenagem a ela. A coletânea é feita de dez autores e 200
poemas. Entretanto, os autores não seguem o estilo que consagrou Kolody como
haicaísta paranaense, a coletânea é que presta essa homenagem trazendo na
quarta capa e na página da dedicatória, a foto e o poema da autora querida. O
título vem do haicai de Helena Kolody, Luz
Interior:
O brilho
da lâmpada,
no
interior da morada,
empalidece
as estrelas.
2)
Trata-se de um coletivo curitibano? Os autores se encontram com regularidade?
Sim e
não. Alguns se encontram, outros não. Alguns são curitibanos, outro, como é o
caso do notável trovador brasileiro, A. A. de Assis, reside em Maringá, no
interior do Paraná.
3) Você
vê uma unidade na produção dos haicaístas que participaram da obra?
Não foi
isso que busquei ao organizar a coletânea. Encontrei poetas que realizam o
haicai que o seu grau de conhecimento, manejo técnico e crescimento como
haicaístas lhe permitem fazer. Também não sei se algum deles se tornará um dia
mais próximo do estilo tradicional brasileiro que é mais rente ao estilo
tradicional japonês. Do mesmo jeito que temos ali um autor que já esteve junto
às origens e hoje tem um haicai desgrudado disso. Não os julgo em sua produção,
nem posso fazê-lo, não é da minha índole. Gosto do resultado final da
coletânea, cada autor me ofereceu um número bastante suficiente de exemplares
de seus poemas e escolhi os vinte que compuseram um painel variado, mas
significativo. Posso responder por mim, eu tenho me mantido na linha
tradicional, com a especificidade da minha poética. Mas, é bom que se
acrescente, que a maioria dos autores teve seus haicais aprovados por Edson
Kenji Iura e Francisco Handa, no Jornal Nippobrasil,
no Nippak e no Caqui (seção Grafiti), e foram publicados por estes dois
estudiosos.
4) Como
você vê a produção de haicai no país hoje?
O haikai,
ou haiku, é o poema mais difundido no mundo hoje. Em nosso país ele também está
bastante popularizado. Porém, tenho visto inúmeros blogues, sites, páginas e
páginas de poemas ditos “haikais” e ao ler vejo que não são nem mesmo
haicais-livres. Já disse em outra entrevista que para mim só existe um haikai –
o restante são estilos. No Japão também é assim. Mas não posso dizer que o
haikai de Bashô e o de Issa são semelhantes; ou, que o haikai de Shiki seja
parecido com o de Nempuku. Não o são. Aqui no Brasil não podemos dizer que o
haikai de Franchetti guarde alguma parecença com o de Goga. Todavia, todos são
haikais, e guardam a mesma estrutura, possuem o sentido que o haimi dá ao
poema. Quanto à produção nacional, vejo progressos. Lamento que se publique
pouco, que as grandes editoras não conheçam o haikai. Não temos expoentes. Temos
ótimos haicaístas, cada qual com sua voz poética. Quando se fala em unidade,
isto pode soar como uniformidade, o que contraria a própria natureza da poesia.
5) Como
vê a produção de haicais no sul do país?
Quando
brinco dizendo que os haicais da coletâneas são “esses haicais aqui do sul”,
quero me referir às vivências dos autores nessa geografia, quando dão uma
ecologia aos seus kigo, temas e senso de observação da cena haicaística.
6) A
Araucária Cultural investe na difusão do haicai no país?
Gostaria
de ter essa visão otimista que você está me apresentando: investir na “difusão
do haicai no país”. Talvez um dia, quem sabe, eu mude o meu nome de editor para
Massao Ohno, esse sim um editor de haicai no Brasil (e da poesia em geral). A
Araucária Cultural é um projeto sustentado por quem publica por ela. Temos como
editar bem um livro a preços módicos. Mas nem sonhamos com uma distribuição
nacional, a venda é feita pelos próprios autores. Trabalho simples, sem
pretensões.
7) Por
que escolheram homenagear Helena Kolody no livro? A seu ver, qual a importância
dela para o haicai contemporâneo brasileiro?
Escrevi
um longo e detalhado trabalho intitulado “Helena Kolody: pioneira do haicai”.
Está publicado na Revista Brasileira de Haicai – Caqui, dirigida pelo Edson
Kenji Iura.
Helena
foi a primeira mulher a publicar haicais no Brasil, em seu primeiro livro Paisagem Interior, de 1941. Ela era
amiga da paulista Fanny Luiza Duprè, que por sua vez era ligada aos haicaístas
pioneiros, voltados à tradição japonesa. Não posso avaliar a repercussão nacional
do trabalho haicaístico de Helena Kolody no Brasil, mas em particular no
Paraná, foi enorme. Paulo Leminski a considerava grande poeta do haikai, a
colônia japonesa do Paraná a reconheceu como tal e deu a ela o nome haicaístico
de Hayka (Perfume da poesia). Temos alguns poetas que seguem o estilo kolodyano
de fazer haicai, inclusive um deles frequenta o Grêmio Haicai Ipê. A
importância de Helena Kolody é regional, e nos falta valorizar esses poetas que
como puderam, com os recursos de que dispuseram, escreveram haicais
inesquecíveis que ficarão para sempre.
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