Não consegui interromper a leitura do livro da haicaista Teruko Oda antes da última página. E, quando lá cheguei, senti não ter nada mais a ler pela frente.
Para apresentar a autora de forma breve (uma vez que o currículo dela é extenso), basta dizer que Teruko é considerada a maior haicaista brasileira desta modalidade de haicai brasileiro inspirada nos clássicos japoneses.
Para quem não sabe o que é haicai, trata-se de um gênero poético praticado desde o século XVII caracterizado pela métrica curta (três versos de cinco, sete e cinco sílabas, respectivamente) e pelos termos de estação (chamados kigos), que deixam claro para leitores qual época e sentimento o poeta quer expressar.
O prefácio é escrito por Paulo Franchetti, professor titular do departamento de Teoria Literária da Unicamp – provavelmente o maior teórico do país no assunto e ele mesmo um sensível haicaísta (aliás, vale a leitura de
Oeste, em edição primorosa do Ateliê Editorial lançada em 2008). Franchetti declara: “
Várias vezes, na leitura fiquei comovido. Primeiro, pela beleza pungente de muitos haicais e outros tantos trechos de prosa, que formam com eles um conjunto harmônico, de extrema delicadeza. Depois, porque este livro representa um momento de apogeu no processo de aclimatação do haicai à língua portuguesa e à literatura brasileira (...)”. É sobre o primeiro ponto que gostaria de comentar. Como pesquisadora na área de Comunicação Social, com enfoque em relatos biográficos e narrativas de não-ficção, eu fiquei encantada com este livro que emprega o gênero haibun, estilo de composição literária que combina texto em prosa com poesia. A princípio, até, Teruko começa tímida com a prosa, que logo engrena e por meio dela, entremeada de belos haicais, ficamos sabendo não apenas sobre sua vida, mas também a história da implantação do haicai no país.
Em
Trilha Estreita ao Confim, o mestre maior do gênero, Basho (1644-1694), combina seus relatos de viagem com haicais como o poeta errante que era. Em
Furusato no Uta –
Canção da Terra Natal, Teruko resgata a visão feminina de filha de imigrantes japoneses, em sua inter-relação simbiótica com a terra. Num certo sentido, também, é o canto do cisne da cultura caipira paulista, francamente em colapso, uma vez que baseada na vivência cotidiana com a natureza e não nas questões ambientais vistas pelos aparatos virtuais, como hoje é mais comum. Talvez resida, aqui, a grandeza da obra: ela aponta um caminho concreto para quem deseja estreitar seu relacionamento com a natureza.
Um caminho duro, é verdade, pois demanda ao adulto resgatar o olhar da criança que aprende a ler o mundo, bem como a humildade de aprender o nome deste pássaro e daquela planta, como se começássemos um idioma novo. Neste sentido, talvez, resida a importância do haicai na contemporaneidade: a descoberta de que, sob o conhecido, há um mundo realmente novo à espera do diálogo, do encantamento e de sentidos atentos.
Monica MartinezLivro: Furusato no uta: canção da terra natal
Autor: Teruko Oda /Apresentação: Paulo Franchetti (Unicamp)
Editora: Escrituras (www.escrituras.com.br)
Gênero: Haicai/Poesia/Literatura brasileira
Edição: 1ª edição
Páginas: 64
Formato: 14 X 21 cm
Peso: 135 g
Preço na editora: R$ 15,00
Mônica, também tive oo mesmo sentimento pelo livro da Teruko. Comecei a ler o livro e...não parei mais. As mémorias e os haicais nos remetem a uma viagem que nos possibilitam entender melhor a sua poesia.
ResponderExcluirAbraço,
Joâo Toloi
Estou louco para ler este livro, a Teruko é uma graça! Tenho somente os dois primeiros livros de haicai dela, mas acompanho sua trajetória haicaística. Mal vejo a hora de ler (ou ouvir?) a canção da terra natal.
ResponderExcluirAbraço
;-)
Monica, é possível achar esse livro em uma livraria comum aqui em salvador? Senão, onde posso compra-lo?
ResponderExcluirUm abração!
Mônica,
ResponderExcluirconheço a Teruko Oda, fiz uma oficina de haicai ministrada por ela, é ternura de pessoa, nos correspondemos vez por outra, não vejo a hora de adquirir este último lançamento dela. Parabéns pelo texto que apresenta o livro dessa mestra e incentivadora do haicai.
Mauro Lúcio de Paula
O poetizar,
ResponderExcluiré tirar uns retratos,
com as palavras.
Orácio Felipe
Bota mais haikai seu aí, garota!
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